Blog Clipping
quinta-feira, setembro 16, 2004
 
Fonte: Público, 16 de Setembro de 2004

Media-esfera, Blogosfera e Atmosfera

Por JOSÉ PACHECO PEREIRA

Há cerca de um ano, escrevi sobre os blogues no PÚBLICO, coincidindo com a sua descoberta por um público mais vasto. Houve, em seguida, o habitual surto de breve fama, centenas de blogues foram criados e dezenas de artigos mais ou menos apressados, mais ou menos informados, foram publicados. Tudo quanto era órgão de comunicação social publicou pelo menos um artigo sobre os blogues. Depois os blogues passaram de moda, muitos dos blogues criados desapareceram, embora a "audiência" global dos blogues tenha aumentado significativamente, mantendo-se esse efeito até hoje. É altura de fazer um balanço deste novo tipo de publicação electrónica.
A blogosfera portuguesa mudou muito durante este ano, deixou de ser constituída por um pequeno grupo pioneiro, que a usava quase como um "espaço íntimo", para se tornar, de um dia para o outro (a rapidez é uma característica do meio), mais agressiva, politizada no mau sentido, ressentida e implicativa. Mas essa fase também já passou e o melhor dos primeiros tempos "íntimos" e o melhor da fase de democratização da blogosfera permaneceram. Cerca de 20 a 30 blogues portugueses fornecem todos os dias novas ideias, reflexões, informações, que um cidadão avisado e culto não deve perder.
Não tenho nenhumas dúvidas de que os blogues vieram para ficar, enquanto a evolução tecnológica não permitir a migração do que hoje se pode fazer num blogue para outra plataforma mais eficaz e superior. Enquanto tal, uma revolução está em curso, principalmente no âmbito do sistema comunicacional, e, a partir daí, afectando os sistemas que lhe são próximos: a política nacional e local, a crítica literária e artística, a divulgação científica, entre outros.
Nenhuma análise hoje do estado da comunicação social em qualquer país onde existe um sistema mediático - jornais, rádios, televisões - pode ser feita sem incluir os blogues. Veja-se o recente caso americano: dois blogues (Power Line e Little Green Footballs) contestaram a autenticidade dos documentos sobre o serviço militar de George Bush, que o prestigiado Dan Rather tinha divulgado no influente programa 60 Minutos da poderosa CBS. Prestigiado, influente, poderoso. Os documentos faziam imensos estragos na imagem de Bush, mostrando a existência de cunhas e tentativas de alterar os relatórios sobre a sua capacidade como piloto. Foram tratados pelos grandes media americanos como uma notícia de primeiríssima página, capaz de alterar a vantagem que Bush obtivera nas sondagens sobre Kerry, em suma, capazes de definir a contenda eleitoral. Os dois blogues, logo seguidos por muitos outros, analisaram os documentos e começaram a levantar questões: nenhuma máquina de escrever, à data putativa dos memorandos, era capaz de manter aquela ordem de espaços entre as letras, sobrepondo-se as mesmas frases escritas com o processador de texto Word sobre o texto antigo, não havia discrepâncias, etc., etc.
Outros blogues levantaram questões de conteúdo - um militar não colocaria aquelas questões no papel, havia uma discrepância entre a linguagem e a forma de outros memorandos do mesmo militar (que já morreu) e os apresentados pela CBS, etc. Outros blogues refutaram que houvesse falsificações e a CBS disse que tinha feito analisar os documentos por vários grafólogos. Foi só uma questão de tempo até que o assunto chegasse à grande imprensa, ao "Washington Post", que tem outros meios de investigação, e as dúvidas sobre a autenticidade cresceram. Analistas e grafólogos mostraram que não havia a unanimidade que a CBS garantia e toda uma nova série de investigações e depoimentos aprofundaram as dúvidas. A questão está em aberto, mas a controvérsia só existiu porque existem blogues e a Internet lhes dá uma audiência universal.
Em Portugal, o mesmo já se passa hoje. Excluam-se os blogues e a comunicação social seria diferente. Não porque os blogues sejam lidos por muita gente, mas sim porque são lidos pela gente certa. Os blogues são escritos por uma elite para uma elite, são escritos por estudantes, literatos, políticos, cientistas, investigadores, jornalistas, na maioria dos casos jovens e no início de carreira, e são lidos pelos mesmos grupos sociais e profissionais dos que os escrevem. Um grupo tem relevo especial neste ecossistema que é a blogosfera: são os jornalistas.
Os jornalistas, principalmente da imprensa escrita, vão hoje buscar imensa coisa aos blogues, umas vezes citam, outras não, e os leitores dos jornais desconhecem a importância dessa contribuição. Ainda recentemente uma notícia de primeira página do PÚBLICO teve origem num blogue. O jornal demorou uns dias a referir a fonte, mas depois fê-lo quando por todo o lado na blogosfera havia protestos. Num blogue, essa ausência de citação seria impossível porque a cultura do hipertexto torna a citação do outro um elemento identitário da blogosfera.
Ideias, frases e factos circulam na blogosfera e, quando verificados, dão ao resto da comunicação social uma dimensão complementar - mais memória, mais conhecimento especializado, mais variedade de temas, novos ângulos de aproximação a um assunto, mais imaginação, maior cobertura regional através de blogues locais. Uma leitura a fundo dos blogues locais poderia suprir muitas deficiências resultantes da ausência de correspondentes locais e revelar histórias bem interessantes. A verificação é fundamental, dado que há textos ficcionais, construções e pastiches que já enganaram alguns jornalistas (e autores de blogues) como sendo verdadeiros, dando origem a alguns embaraços. Há muito lixo, como é da natureza democrática e não editada da rede, mas há também muita coisa boa.
Querem exemplos, dos últimos dias, de questões umas pertinentes, outras testemunhais, outras curiosas? Por que razão os jornalistas, que são tão activos na "transparência" foram tão parcos em nos relatar a cerimónia maçónica nos funerais do presidente do Tribunal Constitucional? Quem lá esteve? Alguém tentou fotografar? Novas do interior dos concertos de Madonna por quem assistiu, pequenos detalhes saborosos. Teorias conspirativas sobre as saídas dos administradores da CGD com algum inside trading. Como é que se come (mal) nos aviões da TAP. Críticas aos números usados por António Barreto nos artigos do PÚBLICO sobre educação. A informação de que ainda está disponível nas livrarias um livro de Hayek, supostamente esgotado. Testemunhos de levar as "encomendinhas" à escola por jovens pais e mães. Desmontagens várias do spin governamental, com exemplos para se perceber muito bem como funciona a "central de informações" e, de passagem, muito incómodos para os jornalistas que lhe dão ouvidos e caneta. Notas críticas da UE, da Constituição europeia, que quase não existem na grande imprensa, toda "europeísta". Por aí adiante.
Esta circulação rica e diversificada, em tempo quase real, constrói um tecido mais complexo à volta de notícias e interpretações e, em consequência, resulta muito crítica dos media tradicionais. É nos blogues, e na sua diversidade política e cultural, que se encontram as críticas muito duras à manipulação informativa que são impossíveis de fazer nos media. Estes são muito pouco sensíveis às críticas, quando não arrogantes, e os jornalistas não são exemplares na abertura ao escrutínio das suas práticas profissionais. Os noticiários manipulados de Rádio Bagdad (o petit nom da TSF) ou as críticas às fabulosas "análises" políticas de Luís Delgado são o "pão nosso de cada dia" nos blogues, e merecem ser lidas porque não são invectivas genéricas - têm exemplos que deviam incomodar todos, e, a prazo, incomodam cada vez mais.
Claro que os blogues estão longe de ser apenas um órgão de "jornalismo informal", como Mário Mesquita lhes chamou, e incluem outras dimensões que podem ter um carácter literário, sociológico e mesmo científico, como instrumentos de investigação. Penso, aliás, que as virtualidades literárias e estéticas da fórmula "diário-em-linha", em conjugação com inovações tecnológicas do software como o MyLifeBits da Microsoft podem vir a permitir novas formas de criação estética. Mas, a curto prazo, tem sido o efeito na media-esfera o de maior impacto.

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quarta-feira, agosto 18, 2004
 
Fonte: Público, 18 de Agosto de 2004

Pacheco Afirma Que "Regra Básica" do Segredo de Justiça "Não Foi Cumprida" Por G.S.Quarta-feira, 18 de Agosto de 2004

José Pacheco Pereira considera que a "regra básica" do segredo de justiça "não foi cumprida, sem consequências de maior", no âmbito do processo Casa Pia. Em texto de opinião publicado ontem no seu blogue pessoal, o ex-eurodeputado social-democrata refere que essa "inequívoca" violação do segredo de justiça gera uma "enorme perturbação que atravessa a sociedade portuguesa". De acordo com Pacheco Pereira, "os advogados da defesa, os jornalistas a mando, os conspiradores, os cabalistas, as partes interessadas" e até as "desinteressadas" no processo "podem falar" e "criar dificuldades à justiça", mas "se tudo o resto funcionar bem, não podem impedir a justiça". Na sua opinião, "só uma parte não o pode fazer", constituída pela Procuradoria-Geral da República, pelos magistrados, pelos juízes e pelos polícias, os quais "detêm sobre o processo poderes com origem nas prerrogativas do seu estatuto profissional". "A sua 'fala' própria é a condução do processo de modo a dar satisfação às vítimas e punição aos culpados", sublinha. Pacheco Pereira defendeu recentemente o afastamento imediato de Sara Pina, a demissionária assessora de imprensa da Procuradoria-Geral da República que terá alegadamente cometido violação de justiça no contexto do caso das cassetes roubadas.
Ministério Público convoca suspeitos de uso da conta de Internet do parlamento açoriano
Cerca de uma centena de pessoas suspeitas de uso abusivo da senha de acesso à Internet do parlamento açoriano foram convocadas pelo Ministério Público, no âmbito de uma queixa apresentada pela Assembleia em 1999. O então presidente do parlamento açoriano, Humberto Melo, resolveu levar o caso a tribunal ao ser confrontado com pagamentos exagerados à Telepac. Foi o caso de uma factura de 2.500 euros atribuída à delegação regional de Angra do Heroísmo, no valor de 2500 euros, um montante que não seria atingido ainda que os computadores estivessem ligados à Internet 24 horas por dia. Segundo declarou à agência Lusa uma fonte parlamentar, muitas das pessoas que foram chamadas a depor, residentes em várias ilhas do arquipélago e do continente, não deverão estar directamente implicadas no caso, tendo sido convocados porque as linhas telefónicas usadas para aceder à Internet estavam registadas em seu nome. A senha terá sido utilizada por jovens e familiares dos indivíduos em causa. Os suspeitos começam a ser ouvidos pelo Ministério Público a 13 de Setembro.

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Fonte: Público, 18 de Agosto de 2004

A Guerra da Propaganda Eleitoral Mudou nos EUA Quarta-feira, 18 de Agosto de 2004

Nas presidenciais de 2004, ambos os candidatos estão a recorrer a novos meios de campanha política - desde a Internet às congregações religiosas. E grande parte dessa propaganda está a ser conduzida por organizações externas às campanhas de Bush e Kerry.Por Pedro Ribeiro, Nova Iorque
Nas últimas décadas, o principal meio de propaganda eleitoral nos EUA tem sido a televisão. Os candidatos compram anúncios televisivos (não há tempos de antena gratuitos), discursam para as câmaras em comícios, comparecem numa série de debates transmitidos a nível nacional.
Este ano, a televisão continua a ser o principal meio da batalha de propaganda entre George W. Bush e John Kerry. Mas grande parte desse combate está a ser travado por outros meios, muitos dos quais fora do controlo das máquinas partidárias convencionais.
Uma das novidades este ano tem sido a Internet. Há uma década que os analistas políticos prevêm que a Net pode transformar a comunicação política, mas só em 2004 é que o mundo online chegou em peso às campanhas.
Tanto Bush como Kerry investiram imenso nas suas campanhas online; os seus "sites" têm vídeos exclusivos e jogos, e têm sido utilizados como primeira via (por exemplo, foi no seu "site" que Kerry anunciou a escolha de John Edwards como candidato a vice).
Ao mesmo tempo, há uma explosão de "blogs" e "sites" políticos, que sem ter laços formais com as campanhas se tornam em meios importantes de propaganda. A angariação de fundos através da Internet superou também todas as expectativas.
Julgava-se que o democrata Kerry iria ficar muito aquém de Bush em termos de financiamentos, mas uma vaga inédita de doações através do seu "site" possibilitou-lhe recolher quase tanto dinheiro como o Presidente.
Ainda em termos de financiamento, este ciclo eleitoral trouxe a novidade das "527" - organizações teoricamente independentes, cuja designação provém de uma alínea no código fiscal dos EUA.
As "527" são formas de "fintar" as novas leis de financiamento eleitoral dos EUA, que limitam as doações directas a campanhas. Em vez disso, os aliados de Bush e Kerry criam organizações autónomas, que em teoria não têm laços com as campanhas dos candidatos, mas na prática fazem propaganda por eles.
As "527" são particularmente importantes para os democratas; milionários como o magnata George Soros investiram milhões de dólares em grupos que fazem anúncios contra Bush. Os republicanos também as usam; no início deste mês, uma "527" pagou por um controverso anúncio televisivo em que veteranos da guerra do Vietname acusam John Kerry de mentir sobre o seu currículo militar.
"Porta-a-porta", "igreja-a-igreja"
Alguns dos novos meios são na verdade "velhos": o cinema, a música ou os livros. Na corrida às presidenciais de Novembro, a contestação ao Presidente Bush tem passado mais pelo mundo das artes que pelos discursos do candidato democrata John Kerry.
Nos últimos dois anos, as listas de "best sellers" têm estado repletas de obras anti-Bush, de autores como Michael Moore, Paul Krugman ou Molly Ivins. O debate político foi muito influenciado por livros de autores "neutros", como "Plan of Attack" (a descrição do pré-guerra no Iraque do jornalista Bob Woodward") ou "Disarming Iraq" (do ex-chefe dos inspectores da ONU Hans Blix).
Os republicanos também têm as suas armas na batalha literária, com "best sellers" de autores de direita como Sean Hannity ou Rush Limbaugh. Mas no cinema ou na música as coisas pendem mais contra Bush.
"Farenheit 911", de Michael Moore, é o mais famoso dos documentários anti-Bush, mas têm estreado nos últimos meses uma série de outros filmes atacando violentamente o Presidente americano ou os seus aliados. Ao mesmo tempo, os artistas rock mobilizaram-se como nunca, com uma "tournée" encabeçada por Bruce Springsteen.
Outro meio "tradicional" que foi revolucionado é a campanha "porta-a-porta". Tanto democratas como republicanos estão a criar legiões de activistas que, sobretudo nos "estados indecisos" como o Ohio ou a Florida, vão fazer apelo ao voto um eleitor de cada vez.
Os democratas costumam recorrer às confederações sindicais para as campanhas porta-a-porta, mas este ano o grau de sofisticação é inovador. Em muitos casos com ajuda financeira das "527", foram criadas estruturas logísticas para cobrir o maior número possível de eleitores; a 2 de Setembro, dia em que acaba a convenção republicana em Nova Iorque, os democratas contam ter 25 mil voluntários que irão visitar um milhão de casas.
A estratégia "porta-a-porta" dos republicanos é diferente - será mais "igreja-a-igreja". A campanha de Bush está a fazer um grande esforço para mobilizar os cristãos mais conservadores, centrando esse esforço nas igrejas protestantes.
Num país onde metade da população vai regularmente a uma igreja, os locais de culto são sítios privilegiados para a propaganda. A campanha de Bush organizou uma rede de activistas religiosos que espalha a sua mensagem através de congregações religiosas.

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terça-feira, junho 22, 2004
 
Fonte: Público, Suplemento Computadores, 14 de Junho de 2004

A quem pertencem (ou não) os blogues
Sistema de Edição na Web Patenteado pela Oracle
Segunda-feira, 14 de Junho de 2004


Pedro Fonseca

Um sistema de edição pessoal de páginas da Web - semelhante aos vários disponíveis para a criação de blogues - foi patenteado pela Oracle Corp., um dos maiores fornecedores de "software" para bases de dados. A notícia, avançada na semana passada pelo diário espanhol "El Mundo", refere-se à patente 6.745.238, depositada a 31 de Março de 2000 e concedida a 1 de Junho deste ano pelo United States Patent and Trademark Office (USPTO), a entidade oficial americana de registo de patentes e marcas.

Denominada de "sistema de serviço autónomo para a edição de sítios Web" ("Self service system for web site publishing"), a patente não faz qualquer referência directa aos blogues mas aparenta ter algum impacto para as empresas que disponibilizam sistemas de edição pessoal como sucede com esse tipo de páginas pessoais actualizadas regularmente.

O registo da patente descreve um sistema em que um utilizador, usando um simples "browser" e através da Internet, pode gerar páginas da Web com os seus conteúdos, bem como controlar a sua estrutura ou grafismo. Em concreto, o sumário do registo fala de um "sistema de criação e manutenção de um sítio da Web [que] permite o controlo distribuído e a gestão centralizada de um sítio na Web".

A "implementação física" do sítio reside numa base de dados - onde a Oracle e o seu fundador, Larry Ellison (na imagem) são especialistas - mantida por um administrador deste tipo de sistemas. O criador pode gerir a estrutura completa do sítio na Web, o seu "design" e o estilo, e os conteúdos podem ser fornecidos e a sua edição controlada por um ou mais colaboradores, detentores ou administradores em simultâneo.

A patente refere ainda a possibilidade de ter "um ou mais painéis" com campos de introdução de dados ou componentes do sítio na Web pelos utilizadores, que podem ser publicados usando apenas o "browser". "Em resposta, o sítio na Web é actualizado na base de dados de acordo com o parâmetro" introduzido pelo utilizador.

A leitura da patente - cujos cinco inventores são referenciados pela Oracle - permite entender que realmente se trata de um sistema para criação de páginas pessoais na Web, geridas no computador de um utilizador mas depositadas numa base de dados centralizada, tal como sucede com os blogues. A Oracle não tinha, até meados da semana passada, reclamado qualquer direito sobre sistemas de criação de blogues.

No corpo do texto da patente, escreve-se de forma vaga que esta está "dirigida ao campo dos sítios na Web e em particular à concepção, criação e manutenção" desse tipo de sítios, com capacidades de "backup", e que é destinada a "pessoas não técnicas" - que assim podem publicar um sítio na Web sem qualquer conhecimento da linguagem HTML, a programação subjacente às páginas da Internet.

A data de apresentação da patente coincide com a divulgação dos blogues nos EUA, apesar de existirem antes outros sistemas mais limitados para a criação pessoal de páginas Web. Numa história abreviada dos blogues (em www.blockstar.com/blog/blog_timeline.html ), refere-se o aparecimento do termo em 1997 mas só dois anos depois surge a primeira lista de endereços sistematizada e uma das ferramentas - o Blogger - que acabaria por facilitar a sua criação e popularizá-lo.

No caso de a Oracle declarar que a patente abrange os blogues - e se não se levantar qualquer oposição, demonstrando existir algum trabalho semelhante prévio que a invalide -, ela pode reclamar verbas às empresas criadoras de sistemas de blogues. O assunto é ainda mais delicado num momento em que as grandes empresas e a sociedade em geral estão a descobrir os blogues para aplicações inéditas, o que poderá gerar um interesse da Oracle em receber "royalties" pela patente.

Na semana passada, a Nike lançou o Art of Speed, um blogue gerido pela Gawker Media, empresa que tem criado conteúdos semelhantes nas áreas da cultura e da política, como referia o diário "New York Times". O Art of Speed mostrará pequenos filmes promocionais da Nike e é o primeiro blogue pago à Gawker, que fornecerá o "grafismo, comentários, hiperligações e outras características".

"Muitos publicitários estão interessados nos blogues como suporte", afirma Nick Denton, responsável da empresa (ver caixa "O nano-editor de blogues"), salientando que o interesse passa por adaptar aos blogues aquilo que é feito tradicionalmente na imprensa com os suplementos publicitários. "É a comunidade certa", afirma Nate Tobecksen, responsável pela ideia na Nike. "Pode ser pequeno mas é um grupo importante e influente".

Apesar da Nike só fornecer os 15 anúncios publicitários, há quem duvide da eficácia do meio, como Patrick Phillips, editor do blogue I Want Media, dedicado aos média. "Se alguém vai a um sítio na Web e sabe que lhe estão a vender algo, não sei se terá muito interesse".

No lado pedagógico, o interesse pela utilização dos blogues está também a aumentar porque alguns professores perceberam que os jovens, alegadamente pouco atraídos pela escrita, o fazem diariamente nos seus blogues. Um pequeno estudo de David Huffaker, da Universidade de Georgetown (EUA), apesar de pouco representativo - pois analisou apenas 70 blogues de adolescentes entre os 13 e os 16 anos -, é, no entanto, indicativo destas tendências.

Huffaker salientava na semana passada, na BBC News Online, estar interessado na utilização dos blogues como tecnologia educativa - algo que alguns professores já fazem, ao reparar no tamanho médio dos textos desses jovens "bloggers", "o que é muito interessante quando se está a tentar que as crianças escrevam".

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Fonte: Público, Suplemento Computadores, 14 de Junho de 2004

O Nano-editor de Blogues

Segunda-feira, 14 de Junho de 2004

P.F.

Nick Denton é o fundador da Gawker Media, um "império de nano-edição" de blogues - como é descrito num artigo publicado na revista "Wired" deste mês, sob o título "How Can I Sex Up This Blog Business?"

Antigo correspondente em San Francisco, na Califórnia, do diário "Financial Times", criou em 1998 a Moreover Technologies, empresa de recolha e venda de recortes de imprensa, e a First Tuesday, um sistema de organização de encontros entre investidores e proponentes de ideias (que chegou a realizar-se em Portugal), vendida em 2000 a uma empresa israelita por 50 milhões de dólares. No ano seguinte, deixou o cargo de "chief executive officer" (CEO) da Moreover.

Entretanto, Nick Denton criou quatro blogues com algum sucesso: o Gizmodo (Agosto de 2002), orientado para os "gadgets", o Gawker (Dezembro de 2002) sobre entretenimento, o Fleshbot (Novembro de 2003), mais virado para as questões da pornografia, e o mais recente Wonkette, sobre política. Neste ano, prevê lançar mais seis blogues.

Mas, como questiona a "Wired", "quanto dinheiro há realmente no negócio do 'blogging'? Os que olharam para o modelo concluem que não há qualquer 'pote de ouro'. Por outras palavras, existe alguma razão para se lhe chamar nano-edição". Apesar disso, Denton já angariou publicidade de empresas como a Absolut Vodka, a British Airways, Jose Cuervo ou da campanha presidencial de John Kerry, além da Nike.

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terça-feira, maio 25, 2004
 
Fonte: Público (Suplemento Computadores), 24 de Maio de 2004

Empresa portuguesa vai lançar sistema internacional para criar blogues

O Nome Não É Tudo
Segunda-feira, 24 de Maio de 2004

%Pedro Fonseca

Está para breve o lançamento público de mais um sistema de edição de blogues. Desta vez, a aposta parte da empresa PortugalMail Comunicações, detentora do endereço Blog.com, onde o serviço de criação de espaços pessoais está já a funcionar de forma experimental.

O serviço entrou na segunda fase de testes na semana passada. A empresa contactou 15 mil interessados que tinham efectuado um pré-registo, enviando-lhes um código para aceder, criar e publicar um único blogue. Segue-se "um teste alargado com entrega de novos convites, para redistribuição, a todos os inscritos no serviço" e só "o lançaremos a partir do momento em que consideremos que os níveis de relatórios de erros e de carga nos servidores atinjam valores aceitáveis" - refere Sérgio Carvalho, director técnico e responsável interno pelo Blog.com.

A empresa prevê ter o sistema acessível ao público em geral até "final de Junho", ao fim de "um ciclo de um ano de desenvolvimento da plataforma de 'software'". Foi também há cerca de um ano que adquiriram o nome de registo blog.com, registado em 1999 "por um investidor em domínios da Internet", encarando-o "como um investimento natural" no momento em que decidiram "entrar neste mercado".

Com este endereço e este serviço - em que até os textos apresentados são em inglês -, a Portugalmail pode apostar na internacionalização e é um alargamento "para o mercado do alojamento na Internet de valor acrescentado", salienta Sérgio Carvalho. Assim, o serviço terá quatro tipo de utilizadores, todos eles podendo criar um número ilimitado de blogues e todos com acesso ao mesmo tipo de funcionalidades.

No entanto, o utilizador gratuito apenas terá uma quota de 10 megabytes (MB) de espaço em disco nos servidores e uma largura de banda mensal de 250 Mbps. Na versão paga básica, de 25 dólares anuais, o espaço será de 50 MB e 1 Gbps de largura de banda, enquanto a "pro" - por 4,95 dólares mensais ou 49,5 anuais - proporcionará respectivamente 100 MB e 3 Gbps. Por fim, o pagador "platinum" (8,95 dólares por mês ou 89,5 ao ano), terá 200 MB de espaço e 5 Gbps de largura de banda.

A plataforma tecnológica foi desenvolvida internamente, "depois de uma análise das plataformas existentes no mercado", refere Sérgio Carvalho, e "foi desenhada para conferir ao Blog.com vantagens competitivas ao nível das funcionalidades, quer à data de lançamento quer pela extensão da plataforma prevista ao longo do tempo de vida do projecto".

Sobre o facto de este ser um mercado onde existem já várias plataformas estabilizadas e a funcionar - em Portugal e no estrangeiro -, o responsável técnico afirma que faz todo o sentido lançar uma nova porque "este mercado está ainda na sua fase de arranque", em que "o potencial de crescimento é gigantesco e as ferramentas de publicação estão longe de estarem maduras". "Foi relativamente simples condensar um conjunto de capacidades que nos colocam à frente de todos os outros serviços, e o espaço para inovação é imenso".

Em termos de funcionalidades, pelo que o Computadores comprovou, as mais salientes perante a concorrência são o facto de o Blog.com permitir a criação de álbuns fotográficos relacionados com o blogue do utilizador (e com ferramentas para manipulação das imagens) e ter um interessante editor de texto, com muitas opções, de fácil utilização para quem conhece os processadores de texto tradicionais.

No resto, acompanha as últimas tendências: a criação gráfica do blogue é rápida e permite alterações posteriores; pode-se guardar o texto numa versão provisória para mais tarde ser disponibilizado "on-line"; permite a categorização das hiperligações para outros blogues ou sítios na Web (que, nalgumas plataformas, tem de ser feita "mexendo" no código de HTML); tem funções de busca dentro dos textos publicados, podendo estes estar - para quem lê o blogue - disponíveis por secções. Têm ainda um endereço fixo e comentários indexados ao texto, surgindo numa página única. Os comentários podem ser editados ou removidos e o utilizador avisado por correio electrónico da escrita de novos comentários aos seus textos. Tem ainda uma função "one click" para permitir a escrita de textos a partir de uma página da Web, copiando desta a hiperligação e o texto sublinhado.

Por fim, apresenta ainda ao proprietário do blogue uma página de estatísticas, onde é possível saber o número de textos, fotografias e blogues disponibilizados, a quota de espaço usada e a largura de banda usada diariamente e por mês.

Para os interessados em criarem blogues, o Blog.com será o último de diferentes serviços e com diferentes funcionalidades a surgirem nos últimos meses. Em Novembro, apareceu o Blogs.sapo.pt, que está hoje cheio de blogues eróticos ou mesmo pornográficos. Antes, já existiam o Blogdot.org, os pioneiros E-diários do Diário Digital, o Blog.clubeinvest.com e o próprio PortugalMail teve um sistema de blogues - existindo ainda o Blogs.parlamento.pt mas apenas para deputados. Por seu lado, o crescimento do Weblog.com.pt já levou o seu criador, o jornalista Paulo Querido, a pedir contribuições financeiras para assegurar o serviço, que conta com mais de um milhar de blogues e é mantido de forma voluntária. Na semana passada, acrescentou um novo serviço, o Moblog.com.pt, uma plataforma para blogues editados usando os telemóveis.

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Fonte: Diário de Notícias


'O Primeiro de Janeiro' nega ter despedido três jornalistas
ALFREDO MENDES

A directora do matutino «O Primeiro de Janeiro», Nassalete Miranda, negou peremptoriamente ter despedido três jornalistas que, através de um blogue, vinham contestando os procedimentos empresariais do jornal.

Em declarações ao DN, Nassalete Miranda afirmou «não conhecer» as pessoas em causa que, acrescentou, «devem intitular-se jornalistas, pois nem sequer têm carteira profissional». Trata-se, esclareceu a directora do diário sediado no Porto, de pessoas «que trabalhavam no departamento comercial, vendedores ou angaria- dores de publicidade. Não despedi ninguém, jornalistas ou colaboradores da redacção», insistiu Nassalete Miranda. Ora, sublinhou, «não há jornalistas comer ciais. Nada de confusões».

O blogue, com o título «Diário de um Jornalista», há já algum tempo questionava a estratégia comercial do diário, mormente a filosofia adjacente ao Departamento de Publicações Especiais, localizado no Freixieiro, Perafita, concelho de Matosinhos.

As situações vindas a público, críticas relativamente à gestão interna de «O Primeiro de Janeiro», provocaram o despedimento, alegando os visados que o departamento comercial articulava a elaboração de artigos com a celebração de contratos publicitários.

Os autores do blogue garantem que irão prosseguir com a iniciativa que provocou a polémica e o despedimento, denunciando os factos vividos como forma de alertarem as editorias e o público. Sustentam que as chefias do diário deveriam ter acautelado o adequado funcionamento do departamento, evitando, desse modo, o surgimento do blogue.

Quanto ao dever de lealdade para com a entidade empregadora, argumentam que «O Primeiro de Janeiro» deveria, igualmente, corresponder às pretensões dos seus funcionários. Precisaram que o blogue foi criado sem conhecimento prévio da hierarquia do jornal.



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Fonte: Público (Suplemento Computadores), 26 de Abril de 2004

Conflito entre o dever de lealdade e a liberdade de expressão

Blogue Provocou Despedimento de Jornalistas
Segunda-feira, 26 de Abril de 2004

%Pedro Fonseca

Três jornalistas do diário "O Primeiro de Janeiro" foram, na semana passada, despedidos por terem participado num blogue e nele descreverem algumas práticas comerciais do diário nortenho. Trata-se do primeiro caso em Portugal de despedimento motivado pela escrita em blogues, apesar de o mesmo já ter sucedido noutros países.

Sérgio Moreira criou o blogue "Diário de Um Jornalista" (diariodeumjornalista.blogspot.com) em 30 de Março e rapidamente o abriu a colegas para ali relatarem em público alguns procedimentos internos do jornal - nomeadamente no departamento responsável pelas chamadas edições especiais (suplementos temáticos). Joel Pinto e uma outra jornalista juntaram-se a um grupo de seis pessoas, no total, que passaram a animar o blogue. Foram os três despedidos na semana passada.

O "Diário" chamou a atenção para o facto e gerou alguma discussão nos últimos dias nalguns blogues interessados no jornalismo pelas práticas ali descritas. O seu aparecimento levou mesmo à criação do "Diário de Uma Jornalista no Desemprego" e, num tom mais irónico, ao "Diário de Um Jardineiro".

Manuel Pinto, provedor do "Jornal de Notícias" e um dos membros do blogue "Jornalismo e Comunicação" (webjornal.blogspot.com), chamou-lhes os "novos proletários do jornalismo" e, noutro texto, considerou que "os materiais como o destes blogues vão ser importantes nos estudos que se vierem a fazer sobre os caminhos que trilha hoje o jornalismo".

Para Sérgio Moreira, a criação do "Diário" blogue "foi o culminar de um crescendo de frustrações e preocupações" destes jornalistas, "e que, infelizmente, não tinham correspondência por parte dos editores". E assume que todas as situações relatadas "são verdadeiras", como explicou por E-mail a Computadores.

Segundo Joel Pinto, aquele espaço na Web servia para revelar as "experiências pessoais no jornal" e, "como era um blogue inocente, nem nos preocupámos com o facto de ser público ou privado". "Até mencionamos qual era o jornal em questão, tal a simplicidade com que encarávamos o blogue".

Foi para "denunciar determinadas situações e também - porque não? - brincar com as coisas", refere Ricardo Simães, outro dos "bloggers" do "Diário" e que trabalhou no jornal entre Setembro de 2002 e Julho de 2003.

Os jornalistas não deram conhecimento aos seus superiores da criação do blogue, até porque sabiam "de antemão que as chefias não iriam gostar"; mas o seu criador assume saber que se tratava de "um local de acesso público e, mais cedo ou mais tarde, iria ser descoberto". E salienta que o problema "não está no que escrevemos" mas "na coragem de denunciar estas situações".

As situações, segundo explicam, estão relacionadas com o facto de o departamento comercial combinar a escrita de artigos com o fecho de contratos publicitários. "O nosso trabalho era em função dos contratos de publicidade que eles assinavam; não havendo contratos, não havia entrevistas marcadas", salienta Joel Pinto. "Os delegados comerciais contactam as empresas ou as instituições ou entidades a estarem presentes num determinado trabalho e, em troca de um valor pago em publicidade, o jornal oferece-lhe um espaço redactorial, no qual os responsáveis dessas empresas podem falar do trabalho que fazem e dos projectos que têm". Para a direcção da empresa, "o interesse imediato é o de celebrar contratos de publicidade e não o de vender jornais", refere.

Reclamando ainda das exageradas condições de trabalho, Joel Pinto - que afirma ter tido um contrato de estagiário de 1º ano durante dois anos e meio -, salienta que "nem o próprio Sindicato [dos Jornalistas] se interessa por estas questões, tanto mais que eles não reconhecem o nosso trabalho como sendo jornalismo". O blogue "foi o único meio que encontrámos para nos exprimir livremente".

Quanto ao dever de lealdade que gere as relações entre empregador e funcionários (ver caixa "O que diz o sindicato"), o mesmo jornalista questiona, entre outras queixas, "qual é a lealdade de existir um departamento editorial que não correspondia às exigências fundamentadas dos seus profissionais", lembrando que "o comportamento de um funcionário perante a empresa reflecte o comportamento da empresa perante o funcionário".

Os autores do blogue mantiveram o anonimato e não nomearam as pessoas criticadas nos seus textos, até ao passado dia 21, quando falaram directamente de José Freitas, o responsável do departamento de publicações especiais do diário.

Joel Pinto foi despedido "apesar de ter um contrato de trabalho em vigor há mais de um ano", não vai receber qualquer indemnização nem sabe se receberá o vencimento de Abril. O blogue "vai continuar a crescer e todas as situações reais serão diariamente denunciadas", refere Sérgio Moreira. "Talvez dessa forma o nosso esforço seja recompensado e os que ficaram possam ter melhores condições".

As "chefias deveriam, desde sempre, ter criado condições para que não fizesse sentido existir um blogue como o 'Diário'", refere Ricardo Simães. E "deveriam aproveitar esta celeuma para repensar o que tem sido a prática do 'Janeiro' desde há algum tempo; deveriam reconhecer os erros", refere.

Computadores tentou - repetidamente mas sem sucesso - contactar, por via telefónica e por E-mail, José Freitas. Apenas conseguiu chegar à fala com Carla Marques, uma das editoras dos referidos suplementos, que remeteu o assunto para o seu superior. Nassalete Miranda, directora editorial de "O Primeiro de Janeiro", estava indisponível na sexta-feira e Eduardo Costa, administrador da empresa, como os restantes, não respondeu às tentativas de contacto telefónico

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quarta-feira, outubro 01, 2003
 
Fonte: Correio do Minho, 14 de Setembro de 2003

EM VIAGEM PELA BLOGOSFERA
Felisbela Lopes

Percorrendo a lista de “weblogs” portugueses, é já considerável o número possível de escolhas. Políticos, jornalistas, professores universitários e estudantes são classes que se destacam num universo que promete continuar a evoluir a grande ritmo. Hoje convido o leitor a
acompanhar-me numa pequena viagem exploratória da “blogosfera” construída em português.

Primeiro ponto de paragem: http://webjornal.blogspot.com/.
Desculpar-me-ão a parcialidade, já que se trata de um “blog” que integro juntamente com outros colegas, embora se torne obrigatório reconhecer que o seu dinamismo é tributário do trabalho diário de Manuel Pinto. Nesse espaço, encontra-se a notícia actualizada sobre o I Encontro de blogs que decorre quinta e sexta feira na Universidade do Minho. Aí estarão os criadores do
“Abrupto”, “Blog de Esquerda”, “Socioblogue”, “Aula de Jornalismo”, “Gente Jovem”, “JornalismoPortoNet”, “Teoria da Comunicação”, “Contrafactos e Argumentos”, “Íntima Fracção”, “Jornalismo Digital”, “Ponto Media”, entre
outros.
Sigo para http://ciberscopio.blogspot.com/, o “blog” de José Magalhães, um dos primeiros deputados a interessar-se, de facto, pelas novas tecnologias. Pelos textos, percebe-se a importância que o mundo virtual
poderá ter, nomeadamente no Parlamento. Pacheco Pereira prefere caminhar por outras estradas. Em http://abrupto.blogspot.com/, o político pronuncia-se
sobre vários assuntos: a festa do Avante, o Big Brother (“É trash, mas é bom”), os colegas do partido... Merece, aliás, citação aquilo que escreve sobre Marcelo Rebelo de Sousa: “com alguma surpresa, vi MRS insistir na
ultima revista ‘Os Meus Livros’ na ficção de que lê sessenta livros por mês, incluindo dicionários, monografias locais, livros de gestão, histórias infantis. Diz ele na revista, acusando o toque dos cépticos como eu, que sabem o que é ler livros e o tempo que demora, que não tem culpa dos outros lerem pouco porque dormem mais. (...) Será que Marcelo acha que é o único
que lê e que convence alguém de que, mesmo sem dormir um minuto, se pode ler dois livros por dia? Estamos no domínio das lendas urbanas”. Confrontada com estas linhas, recordo aquilo que, há uns anos, me confidenciou um deputado do PS para quem a vida social se preenchia por três tipos de pessoas: os amigos, os inimigos e os colegas de partido que, na sua perspectiva, nunca se saberia se estariam do lado dos amigos ou dos inimigos. Os anos em que trabalhei no jornal “Público” mostraram-me o quanto este político fora assertivo.

Com um clique no rato, faço meia volta e entro em http://aviz.blogspot.com/. Francisco José Viegas anuncia que vai uns dias de férias, mas, antes, deixa-nos pistas possíveis para uma blogosfera salpicada pelo registo religioso. As moradas indicadas são: http://vozdodeserto.blogspot.com/ e http://cronicasmatinais.blogspot.com/ .
Pela minha parte, penso que o tom intimista destes “blogs” não deve levar-nos a confundir perspectivas, mas talvez esse espaço nos ajude a
descobrir a eternidade que cada um transporta dentro de si.

Seleccionando os “blogs” pela expressividade dos nomes, entro em http://gatofedorento.blogspot.com/, da autoria de um grupo de pessoas ligadas às Produções Fictícias. Por entre o registo irónico dos textos, sobressai a melhor declaração que li sobre o fim do único programa cultural
televisivo da Europa: “É definitivo. O Acontece vai acabar. Dr. Morais Sarmento, estou à espera da minha volta ao mundo paga pelo Estado português.”

Por hoje, a viagem fica por aqui. Trata-se apenas de uma paragem de um extenso percurso. Se procurar pistas para fazer um “blog”, consulte http://silver.sweetmary.net/dicas.htm Se quiser conhecer alguns daqueles que já existem, vá a http://blogues.no.sapo.pt/, mas aconselho-o a colocar um
relógio ao lado do ecrã. É que, se nos distrairmos, lá vamos nós de “blog” em “blog”, sem nos darmos conta de que o tempo passa quase tão rápido como a velocidade com que aparecem as novidades deste novo universo chamado “blogosfera”.

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domingo, setembro 28, 2003
 
Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

Blogues para a Cidadania
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

%P.F.

Após a desistência de Pacheco Pereira e a doença do Blog de Esquerda, o painel sobre cidadania e participação ficou restringido a João Oliveira, do Notas entre Aveiro e Lisboa, e a João Nogueira, do Socio[B]logue. Este começou por realçar que a utilização dos blogues nestas componentes são experiências recentes, pelo que existem mais perguntas do que respostas. São novos meios que estão a reequacionar os meios tradicionais, obrigando-os a reinventarem-se, nomeadamente na questão da interactividade - exemplificando com os fóruns que as televisões estão a abrir ao público para participarem por mensagens de telemóvel.

Mas se "os blogues são tão atractivos para pessoas que não usam meios mais interactivos - como o IRC", "a democracia electrónica é um mito", afirmou. Enquanto os média tradicionais servem como filtro de opiniões e expressões públicas, "os blogues podem ser mais violentos e anónimos do que os outros meios tradicionais".

Em termos de cidadania, existem duas teses em confronto, defendeu João Nogueira: a teoria prevalecente da amplificação da cidadania - em que eles permitem uma maior interactividade entre poderes eleitos e cidadãos - e a teoria da exclusão, em que só os que têm acesso a estas ferramentas se podem pronunciar sobre a vida pública, criando um maior fosso face aos que a elas não têm acesso. "São retóricas", explicou, "tendem a esconder o que os blogues têm de novo e levantam novas questões a que se tem de responder".

Uma delas, elaborada a partir da sua própria análise do fenómeno, tem a ver com o género feminino estar tão ausente dos debates políticos na blogosfera nacional. No geral, com mais acesso a informação e uma consequente maior formação para a cidadania, "aumenta a participação cívia, social e política". E, nesse sentido, há oportunidades para os blogues locais ou regionais, nomeadamente na difusão de mensagens cívicas, na criação de grupos de pressão, numa unidade de esforços, porque eles estão naturalmente mais atentos a essas questões locais, salientou João Oliveira.

Porque os blogues são um espaço credível, a democracia electrónica tem a ganhar ao existir mais informação, participação e independência - "são uma arma fortíssima como elemento de participação cívica e forma de pressão na vida real", referiu.

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Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

Ferramenta de Aproximação no Ensino
Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

P.F.

Os blogues são úteis no ensino, a julgar pelas experiências divulgadas no I Encontro Nacional de Weblogs, num painel dedicado ao assunto. Uma maior interactividade no lado pedagógico e uma maior aproximação entre alunos e professores são alguns dos seus triunfos. A interactividade é essencial no lado pedagógico e na organização do curso, permitem ainda disponibilizar informação para as aulas, mesmo que nem todos os alunos os usem, como referiu Rogério Santos, do Teorias da Comunicação.

"É um ponto de apoio das aulas", refere também Fernando Zamith, do JornalismoPortoNet, mas também servem como suporte de publicação a trabalhos de alunos. Com algumas vantagens: alguns média podem aí descobrir novos talentos ou eles próprios fomentarem iniciativas de autoemprego.

E, contrariando algumas ideias feitas, "os alunos passam a ensinar os professores, sobre questões técnicas", como lembrou Manuel Pinto, do Aula de Jornalismo. Diferente do ambiente universitário é o caso da escola secundária de Minas da Borralha, em Montalegre. Numa terra onde "as únicas filas de trânsito são as do gado que regressam às cortes", como explicou Luís Sousa, o blogue Gente Jovem permitiu uma experiência partilhada entre meia dúzia de professores e cerca de 30 dos mais de 200 alunos, que será repetida este ano escolar.

Os blogues, segundo aquele professor, permitiram uma familiarização com as tecnologias de informação e comunicação - "o que é útil para o ensino" -, uma aproximação entre os alunos e os professores porque "ambos estão no mesmo patamar, não há estrado e isso também desinibe os alunos, e deixa-os serem criativos, desenvolvem um espírito crítico".

Em termos de resultados práticos junto dos adolescentes, Luís Sousa apontou uma melhoria das capacidades da leitura, escrita e organização de ideias mas também uma valorização da sua identidade e das raízes, pelo confronto com ideias e realidades diferentes. "Há uma construção colectiva de saberes, um sentimento de partilha muito positiva na integração de alguns alunos."

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Fonte: Público, 22 de Setembro de 2003

I Encontro Nacional sobre Weblogs junta meia centena de 'bloggers'
Escrever Sim, Discutir Não

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2003

Pedro Fonseca

A blogosfera nacional poderá contar com mais de 2 mil blogues, nem todos activos; mas, quando se trata de se encontrarem fisicamente, apenas meia centena resolve marcar presença. Foi o que sucedeu na passada quinta e sexta-feira, no I Encontro Nacional sobre Weblogs, realizado na Universidade do Minho, em Braga. "A blogosfera é relativamente grande mas é mais fácil fazer blogues do que falar sobre eles", sintetizou Manuel Pinto, principal organizador do Encontro e docente na área de jornalismo daquela universidade.

Entre a contagem inicial de 174 blogues realizada em Janeiro pelo Blogs em .pt e os mais de 2300 contabilizados actualmente pelo Bloco-Notas - e apesar de existirem blogues nacionais desde 1999 -, um facto incontestável para a sua dinamização mediática e motor de crescimento dos blogues em Portugal foi o aparecimento destes diários abordando a actualidade política, desde a já extinta Coluna Infame ao Abrupto, de José Pacheco Pereira, que, em Março, escreveu no PÚBLICO sobre esta temática. O crescimento vai continuar, prevê António Granado, jornalista do PÚBLICO e "blogger" (termo inglês para definir os autores de blogues), porque só neste Verão foram criados mais de mil.

São muito poucos, comparando com os três milhões que se calcula existirem em todo o mundo - tantos quantas as páginas Web indexadas pelo motor de busca Google - mas, mesmo assim, "é muito para ler de manhã", como referiu José Luis Orihuela, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra. "Nunca tivemos de ler tanto para escrever tão pouco", explicou, e os "bloggers" "estão a aprender a ler e a escrever de novo; não é metáfora, estão a aprender a escrever com hiperligações e isso é uma nova alfabetização". Por outro lado, "a blogosfera, não a Web, é a maior fábrica de conhecimento dos nossos dias", referiu.

Apesar do potencial exagero, a verdade é que os blogues são mais do que uma moda. Usando o trabalho de Everett Rogers, de 1995, A. Granado explicou como a difusão das inovações se processa com alguma lentidão junto de certos grupos bem definidos. Os primeiros a adoptá-las são os "inovadores", que não passam de 2,5 por cento. Seguem-se os 13,5 por cento de "early adopters", a "early" e a "late majority" - ambas com 34 por cento cada - e finalmente os "laggards" ou "atrasados", que representam os restantes 16 por cento.

"Em Portugal, ainda estamos numa fase da inovação e a Internet ainda é uma ferramenta dos info-ricos e dos países mais desenvolvidos", lembrou Granado. Nesta fase, as principais características dos blogues nacionais é a de serem muito opinativos e pouco informativos, funcionando a grande maioria em circuito fechado. Há também poucas referências para fora da Internet portuguesa - gerando fenómenos como o desencadear de polémicas com outros blogues nacionais mais conhecidos para assim se obterem ligações de retorno e uma maior visibilidade, pelo menos temporária mas que serve como chamariz para esse blogue. E há uma ausência de práticas jornalísticas neles, referiu ainda. Nesse sentido, entrando numa polémica sobre se os blogues são ou não uma ameaça ao jornalismo, afirmou que nunca os viu como tal, até porque "rarissimamente aparece informação original".

Em termos mais gerais, no entanto, Orihuela considera que os blogues, sob as diferentes designações de "nano-edição" ou "auto-média" permitem aos "utilizadores serem comunicadores públicos - é a primeira vez na história da imprensa e os blogues são o mais importante nos últimos 17 anos, desde o aparecimento da Web".

Para o investigador espanhol, "o que mudou foi o conceito de periodicidade" e, "na sua passagem para o tempo real, perde-se o espaço de reflexão mas ganha-se em dinamismo e conversação, num sistema global de comunicação com correcções de textos em tempo real" aquando da descoberta de erros. Mas não só, porque "a agenda de temas relevantes nos blogues ultrapassa largamente o terreno comum dos média tradicionais", muitas vezes usando fontes alternativas a esses média.

Olhando para o futuro dos blogues nacionais, vai-se assistir ao aparecimento de mais blogues anónimos, seja por alguém que quer dizer mal de outrem como para ver se alguns média pegam nessas histórias, antecipa António Granado. Os "moblogs" - blogues mantidos a partir das capacidades multimédia dos telemóveis - deverão também aparecer por cá, "com invasão pura da privacidade", exemplificando com casos de figuras públicas registadas em sítios onde não deviam estar a horas menos convenientes ou com companhias menos aconselháveis.

Finalmente, uma tendência também de futuro será o aparecimento de blogues ligados ao ensino e não só no ensino do jornalismo, como sucede hoje. Esta posição foi também defendida por José Luis Orihuela, quando apresentou algumas sugestões para o futuro da blogosfera em Portugal: "O enfoque correcto é estar na origem da mudança, nomeadamente nas universidades". Defendeu ainda a existência de directórios temáticos e actualizados, sistemas de "blogtracking" para se conhecer o que está a ser mais debatido entre blogues e "rankings", com prémios para os melhores blogues, a criação de blogues comunitários em português e inglês, a adopção do que já demonstrou ter êxito lá fora e, finalmente, aproveitar as sinergias, nomeadamente em termos linguísticos com o Brasil.

Entre blogues com um bom grafismo e maus conteúdos ou o contrário, Orihuela advoga que "as pérolas com conteúdos fortes e bom grafismo tornar-se-ão os blogues de culto".

N.E. - Pedro Fonseca foi responsável pelo Blogs em .pt, participou na organização do evento e nas sessões (não relatadas) sobre "Weblogs, jornalismo e comunicação" e "Weblogs e sociedade"

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Fonte: Público, 20 de Setembro de 2003

Jornalistas Terão Que Ser Mais "Polivalentes"

Por ISABEL FREIRE
Sábado, 20 de Setembro de 2003

No século XV, quando surgiu a imprensa, os monges copistas passaram a dedicar-se ao fabrico de cerveja, já que os textos que demoravam uma vida a copiar eram agora reproduzidos em minutos. É graças aos monges copistas e à imprensa que a Europa tem agora a melhor cerveja. Esta parábola (não verídica) foi usada pelo "blogger" espanhol José Luis Orihuela, para traduzir o desafio que os "weblogs" colocam aos jornalistas.

A pergunta deixada por Orihuela, no Encontro Nacional sobre Weblogs, na Universidade do Minho, em Braga, ontem e anteontem, foi: "Qual a cerveja dos jornalistas?" Não existe ainda uma resposta, mas ela pode passar por alguma "polivalência", que permita aos profissionais de informação trabalharem para diferentes suportes, e na interactividade.

Neste momento, em Portugal há cerca de 2300 "weblogs" - a nível mundial são cerca de três milhões -, uma espécie de diários (logs) disponíveis na Internet (web), cujo diminutivo mais usado é "blogs". Trata-se de um fenómeno que duplicou o seu número de ocorrências a partir de Junho deste ano, o que, para o "veterano da blogosfera" António Granado (Ponto Media), significa que os "weblogs" "são mais que uma moda" e ainda "conhecerão uma grande expansão". Este desenvolvimento poderá ser realizado mesmo em termos tecnológicos, nomeadamente com os "moblogs" - weblogs móveis actualizáveis a partir de um telemóvel e uma câmara.

Segundo Orihuela (e-Cuaderno), "até agora, a identidade profissional de cada jornalista estava marcada pela natureza e tipo de linguagem do seu suporte". Este professor de produção multimédia da Universidade da Corunha e de Navarra argumenta que o jornalista "terá que ser capaz de falar sobre uma matéria em qualquer tipo de plataforma de comunicação, passando a ligar-se a um conteúdo e não a um meio". Esta é a adaptação exigida pelas "bitácoras" (a palavra espanhola para "weblogs"), que vêm inverter a hierarquia tradicional de poder, como produtoras de reacções por parte dos "media".

"O jornalismo nos 'blogs' é inexistente

No mesmo sentido, o coordenador do evento, Manuel Pinto (Aula de Jornalismo) advoga que os weblogs "vêm lançar o desafio da interactividade". Segundo este ex-jornalista, "nos meios tradicionais, a palavra é considerada um privilégio, mesmo face à sede de participação das pessoas. Os 'media' têm que fazer um esforço, não só de dar um espaço às pessoas, mas também de procurá-las para as ouvir sobre orientações editoriais."

Em Portugal, a proliferação não é de "blogs" informativos, mas opinativos. "O jornalismo nos 'blogs' é inexistente. Não há informação original, mas pistas de leitura", nota António Granado. Por esta mesma razão Fernando Zamith (JornalismoPortoNet), fazendo eco da voz de outros intervenientes, afirma que "quem tem razões para temer esta concorrência da blogosfera não são os jornalistas, mas sim os comentadores e colunistas". São afirmações e comentários que, no espírito do encontro, não podiam deixar de ser divulgadas na internet, em encontrodeweblogs.blogspot.com, um blog criado para todos os participantes deixarem o seu texto, ou seja o seu "post"..

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Fonte: TSF, 18 de Setembro de 2003

SÉCULO XXI

Encontro Nacional sobre Weblogs
O significado de weblog está para além da palavra. É verdade que resulta da possibilidade de qualquer cibernauta colocar informação na Web através da internet, mas a forma de explorar esta possibilidade ultrapassa largamente o simples diário. Ao contrário dos velhos diários fechados a cadeado, agora eles estão abertos a todo o mundo e até se sujeitam a comentários.

12:50
18 de Setembro 03
Francisco Amaral


Este Encontro de Weblogs em Braga, tem também um blog, como se diz na gíria. Trata-se da área escrita do Encontro. A ideia é possibilitar aos participantes no Encontro, quer aqueles que não têm possibilidade de participar, nos próximos dias, forma de intervir no debate sobre a blogosfera, as suas potencialidades, realizações e riscos.

Para que isto se torne realidade, a organização decidiu divulgar publicamente o login e a password de acesso ao blog do Encontro, tornando-o assim numa experiência partilhada completamente aberta.

Para os de fora, que é como quem diz, para os não bloguistas que queiram participar, entra-se pela página, no login colocar a palavra encontro e na password braga. Abre-se assim a janela mágica. Depois é escrever, sem se esquecerem de publicar, o que se faz muito facilmente clicando em "post and publish".

Um novo fenómeno em debate, hoje e amanhã em Braga e na internet.


Século XXI
Dias úteis, 12h50m

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Fonte: TSF, 17 de Setembro de 2003

BRAGA

Bloggers num encontro cara a cara

Pela primeira vez, os bloggers portugueses vão sair do ciberespaço para se encontrarem cara a cara. O objectivo é discutir, na Universidade do Minho, a actual blogosfera e as potencialidades deste novo meio de comunicação.

18:45
17 de Setembro 03
Patrícia Maia


A blogosfera portuguesa e internacional, os weblogs e a cidadania, o ensino e a investigação são alguns dos temas que vão estar em cima da mesa no encontro que decorre em Braga de 18 a 19 de Setembro.

O principal objectivo é discutir «as consequências que os weblogs podem ter para a sociedade», explicou à TSF.Online o professor Manuel Pinto, do departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho (UM).

Blogs, mais do que uma moda?

O ciberespaço português assistiu a um «boom» de weblogs ao longo deste ano. Em Janeiro os blogs nacionais não eram mais de 170. Agora são mais de dois mil.

Manuel Pinto não nega que esta explosão resulta de um fenómeno de moda, mas sublinha que isto aponta para uma crescente «multiplicação de espaços de expressão, de fontes e de possibilidade de tomar a palavra».

O professor - que mantém o blog Jornalismo e Comunicação, com outros colaboradores do Mestrado em Informação e Jornalismo da Universidade - considera que este fenómeno tem um «enorme potencial do ponto de vista cívico, cultural e económico».

Cidadania e comunicação

No primeiro dia, as intervenções estão reservadas a António Granado (do blog Ponto Media) que vai dissertar sobre o Panorama da blogosfera em Portugal, e a José Luis Orihuela (e-Cuaderno) que faz uma avaliação do Panorama espanhol e europeu da blogosfera.

Weblogs, cidadania e participação; Weblogs, ensino, aprendizagem e investigação e por fim; Weblogs, jornalismo e comunicação, são os temas que vão marcar o segundo dia do encontro.

José Pacheco Pereira, os autores do Blog de Esquerda, e Francisco Amaral, responsável pelo programa da TSF Íntima Fracção e autor de um blog homónimo, são alguns dos bloggers que foram convidados a intervir sobre estes temas.

Os Blogs e o ensino

Os blogs no ensino e a investigação vão ser outro ponto forte deste encontro. Para o departamento de Ciências da Comunicação da UM a blogsfera não é novidade. Desde meados de 2002, que os alunos do terceiro ano de jornalismo mantêm o blog Aula de jornalismo.

Este espaço serve de «plaforma de publicação e de discussão dos alunos. É um instrumento de aprendizagem e também um incentivo à publicação de trabalhos», explica Manuel Pinto.

Dia 19, para encerrar o evento, todos os participantes são convidados a discutir os «horizontes da blogosfera». Na área do encontro há computadores ligados à internet para que os convidados possam, no intervalo e no fim da discussão, actualizar os seus weblogs.


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Fonte: TSF, 19 de Setembro de 2003

INTERNET

Blogs, uma moda que veio para ficar

O que leva mais de três mil portugueses a publicar uma espécie de diário online? E de que maneira os blogs contribuem ou interferem na nossa sociedade? A estas e a outras perguntas tentaram responder os blogers do encontro que terminou, sexta-feira, em Braga.

23:40
19 de Setembro 03
Patrícia Maia

Apesar das ausências verificadas no painel de convidados, os blogers do encontro que decorreu quinta e sexta-feira em Braga acenderam algumas luzes importantes para perceber o fenómeno que só este ano chegou em força a Portugal.

José Mário Silva (Blog de esquerda), José Pacheco Pereira (Abrupto) e Francisco Amaral (Íntima Fracção), que compunham grande parte do painel do segundo dia, não puderam, por diversos motivos, deslocar-se a Braga.

Da intervenção do espanhol José Luís Orihuela (e-cuaderno) fica um conceito curioso: se Guttemberg tivesse nascido hoje, em vez da imprensa teria inventado os blogs.

Contra a ideia de que os blogs são apenas uma moda, Orihuela afirma que «a natureza da web e dos weblogs resulta numa publicação à escala mundial sem editores, mas ancorada num processo diário de 'revisão pelos pares' e de comentários de leitores».

Ou seja, o blog criou um novo conceito de comunicação. Dá ao seu autor a possibilidade de partilhar ideias - boas ou más, reais ou imaginárias - com os milhões de potencial cibernautas que circulam pela net. Na blogosfera, não há editores, nem chefes de redacção, nem critérios jornalísticos a cumprir. É pensar, escrever e publicar.

Simples, mas não para todos

Criar um blog é quase tão simples como abrir uma conta de email na internet. Basta aceder a um dos muitos servidores que fornecem blogs - como o português weblog.com.pt, o norte-americano new.blogger.com, ou o brasileiro webloger.terra.com.br, para mencionar apenas alguns - escolher username e password e seguir as instruções fornecidas.

Um processo, aparentemente democrático e acessível a qualquer um, não fosse o problema da infoexclusão, como salientou António Granado (Ponto Media), a quem calhou a tarefa de dissertar sobre o panorama da blogosfera nacional.

É importante não esquecer que este maravilhoso mundo da publicação em tempo quase real, «ainda é um fenómeno de info-ricos», sublinhou o jornalista do «Público».

De facto, percorrendo alguns dos blogs mais acedidos no nosso país, percebemos que esta nova forma de publicação está confinada a uma elite. A possibilidade de editar e publicar informação para o (cada vez mais) vasto público da internet, seduziu não só aqueles que nunca se tinham dirigido às massas mas também alguns «famosos» com acesso directo aos meios de comunicação.

Embora não tenha podido deslocar-se a Braga, Francisco Amaral explica no site do encontro que o blog Íntima Fracção «surgiu porque o programa (de rádio) entrou no 20 º ano de emissões e (...) era altura de contar histórias que não cabiam na estética do programa».

Quando os blogs são notícia

O eurodeputado do PSD Pacheco Pereira, que tem uma coluna de opinião no «Público» e participava no programa Flashback da TSF (com o socialista José Magalhães), mantém o blog Abrupto desde Maio.

Esta semana, no Abrupto, Pacheco Pereira comparou Paulo Portas a Le Pen , por causa do discurso que fez sobre imigração na rentreé do CDS-PP.

O porta-voz dos democratas cristãos, António Pires de Lima, não gostou e respondeu a Pacheco Pereira classificando os seus comentários como «disparates». A «guerrilha» continuou e acabou por saltar para as páginas dos jornais.

O Gato Fedorento - mantido por Tiago Dores, Ricardo Araújo Pereira e Zé Digo Quintela, das Produções Fictícias - foi ainda mais longe. Não só foi notícia nas páginas dos jornais, como vai ser transformado num programa de televisão.

Miguel Esteves Cardoso e Francisco José Viegas são outras personalidades que conquistaram um cantinho da imensa rede que é a internet.

Do anonimato para o estrelato

Muitos blogs são conhecidos porque os seus autores são famosos. Mas também há blogs de autores anónimos que atingiram ao estrelato. Apesarem da pouca credibilidade, já que a fonte não pode ser confirmada, estes blogs atraem centenas de visitas diariamente, e claro, a atenção da imprensa.

É o caso do blog Muito Mentiroso. O autor desta página aproveita a total liberdade de expressão oferecida pela net para «libertar» «informações» (?) polémicas sobre o processo Casa Pia.

Quinta-feira, a SIC Noticias divulgou uma entrevista feita através de email ao suposto autor da página. Desde que foi criado, o Muito Mentiroso registou quase 200 mil acessos.

O Meu Pipi é outro exemplo de fama anónima. O blog alcançou um enorme sucesso com as crónicas «a pisar o risco do mau gosto», como o próprio autor afirma. O «Expresso» dedicou-lhe uma reportagem que inclui uma entrevista ao homem por trás da página, sem nunca revelar a verdadeira identidade do autor.

Por tudo isto, parece que os blogs vieram para ficar, com toda a sua diversidade. Cabe então ao leitor distinguir o trigo do joio e escolher o blog que mais lhe convém, para entreter, informar, ou desinformar.


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Sic Online, 18 de Setembro de 2003

Registo mais famoso de Portugal chama-se "Muito Mentiroso" e fala do processo Casa Pia

O "blog" mais famoso de Portugal

Os "blog's" são registos pessoais na Internet e exploram todo o tipo de assuntos. Qualquer pessoa pode, de forma gratuita, ter uma página na Internet. O problema pode surgir quando fontes anónimas fazem acusações graves e esse "blog" é visto por milhares de pessoas. É o caso do "Muito Mentiroso" que avança uma teoria muito própria sobre o processo Casa Pia.


Luís Manso e Marisa Caetano Antunes

2003-09-18 10:12

Quem entra nas páginas do mundo online encontra um novo Universo: os weblogs. Pelo mundo fora existem milhões. São registos pessoais diários onde se exploram todo o tipo de assuntos desde fotografia, poesia, literatura, política ou até mesmo detalhes de uma vida íntima ou críticas políticas e sociais.

Durante a campanha militar no Iraque houve mesmo um registo de guerra feito a partir de Bagdad. Um diário de quem via as bombas cair e tinha histórias de um dia-a-dia numa cidade que estava no centro das atenções do Mundo.

Sobretudo nos últimos meses, a moda dos "blog's" também chegou a Portugal e conta já com centenas de adeptos. Contas feitas podem já ser dois mil os cibernautas portugueses que aderiram aos diários virtuais.

Entre ilustres anónimos, há reconhecidas figuras públicas, como é o caso de Pacheco Pereira. O eurodeputado mantém online as páginas "Abrupto" e "Estudos sobre o Comunismo".

Para quem quer rir, há muito por onde escolher, como é o caso do "Gato Fedorento", projecto que nasce da imaginação de quatro autores dos textos das Produções Fictícias.

Mas nem todos os que andam neste meio se identificam e fala-se mesmo de um lado perverso do mundo dos Weblogs.

A coberto de anonimato, podem ser lançadas calúnias e mentiras, colocando em causa a imagem de outras pessoas.

O "blog" mais famoso de Portugal

Um dos registos pessoais electrónicos mais falados do momento intitula-se "Muito Mentiroso" e está a gerar polémica por várias razões: constrói uma verdadeira teia de alegadas mentiras e casos de corrupção à volta do processo Casa Pia, divulga questões, algumas intrigantes sobre o caso da pedofilia. Fala em nomes importantes da sociedade portuguesa e publica as opiniões dos internautas que querem manifestar-se.

As teses são de um grupo de pessoas que, segundo o documento publicado no blog "Muito mentiroso", integra profissionais das polícias e dos serviços secretos portugueses. Verdade ou mentira. Ninguém sabe. É aí que reside o problema destes sites virtuais, que podem ser criados por qualquer pessoa.

A SIC conseguiu chegar ao responsável pelo responsável do blog que, sob o anonimato, diz ser apenas um mero veículo para a publicação de textos.

"O primeiro documento onde o GOVD (Grupo Operacional de Vigilância Democrática) se dava a conhecer, chegou-me, como todo o restante material, por carta, sem remetente. (…) como não sabia o que fazer com aquilo e como os blogues estão na moda, resolvi ir transcrevendo o que me fosse chegando para o "Muito Mentiroso". Acho que ao perceber que eu dava andamento às cartas, a pessoa deve ter-se sentido encorajada a continuar a enviar-me mais coisas", explica o responsável pelo blog mais famoso de Portugal.

Em relação ao processo Casa Pia, o blog "Muito Mentiroso" faz várias denúncias: arguidos inocentes, dados viciados ou destruídos, corrupção, pedófilos que são encobertos, ligações ao tráfico de droga, chantagens, mentiras pagas. Tudo explicado ao pormenor numa teoria que para alguns é loucura. Para outros nem tanto.

Questionado sobre o motivo que leva alguém a ser um mero veículo para alimentar verdadeiras teorias da conspiração, o responsável pelo blog "Muito Mentiroso" responde:

"Porque é viciante. Constatar que centenas de milhares de pessoas acederam ao blog na última semana e meia deixa-me doentiamente orgulhoso. Talvez eu seja doente".

Mas então um nova pergunta impõe-se: se a função é de mera publicação de informações, porque é que não dá a cara ou o nome? E mais uma vez, a resposta.

"Porque acho perigoso vir a pagar por uma coisa que não é da minha responsabilidade. Se viessem a perguntar-me quem está por trás disto teria de responder. Não sei. E embora respondesse com verdade, ninguém acreditaria".

Em que se baseiam as teorias? Que fontes estão por detrás deste blog, e que tipo de credibilidade têm são perguntas que ficam sem resposta.Verdade ou mentira, o blog existe. Pode ser consultado por qualquer pessoa e está a incomodar muita gente.
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Fonte: Diário de Notícias, 20 de Setembro de 2003

O mito da democracia electrónica

FERNANDO MADAÍL
As ausências de José Pacheco Pereira, que garantiu a fama à blogosfera nacional com o seu Abrupto, e de José Mário Silva, do Blog de Esquerda, inviabilizaram a polémica que poderia surgir, ontem, em Braga, no painel cidadania e participação do I Encontro Nacional sobre Weblogs, promovido pela Universidade do Minho.

A influência do Abrupto, como frisaria João Nogueira, do Socio[b]logue, é tão grande que se podem analisar alguns conceitos só a partir dessa página. Um é «o mito da democracia electrónica» (e-democracy), porque, além da «teoria da exclusão» cibernética (em aparente confronto com a tese da «amplificação da cidadania»), há também a estruturação hierárquica dos weblogs.

O número gigantesco de visitas do Abrupto (mais de 165 mil) _ outro «nó» de referência na rede é, por exemplo, o Aviz, de Francisco José Viegas _ cria a capacidade de promover rapidamente um novo weblog «à I Divisão», frisa João Nogueira, citando a recente popularidade do Glória Fácil. Uma das características deste universo é precisamente a auto-referência, pois os autores destes «diários pessoais» públicos registam listas dos blogs preferidos ou citados.

Além disso, sustenta o autor do Socio[b]logue, qualquer tema levantado no Abrupto está a ser discutido em cem outros blogs no dia seguinte, o que torna inviável acompanhar todo o desenvolvimento dos comentários ao post, já que o universo português, do Íntima Fracção a O Meu Pipi, estima-se em mais de dois mil bloggers.

Esta questão levanta outras duas: a info-overload, com o excesso de número de páginas para ler cada dia (embora, em seu entender, ao contrário do que sucedia antes na Net, a informação nos blogs seja transformada em conhecimento), e o speed-writing, em que o desejo de comentar rapidamente reduz o tempo para reflectir. E há ainda «a ansiedade do próximo post», com João Nogueira a dar o exemplo de Ivan Nunes, autor de A Praia, que terá ironizado: «Agora, já não tenho vida própria, mas matéria para o blog».

João Nogueira considera que o «problema» da cidadania só se levantou relativamente a esta nova forma de comunicação mediada por computador (e não com os «antigos» IRC ou o ICQ) por causa das vantagens desta ferramenta, em que avulta o atractivo de «quase livro» e a sua grande interactividade, mas também devido à mediatização externa de algumas figuras, como Pacheco Pereira.



PARTICIPAÇÃO E ENSINO

O weblog Notas entre Aveiro e Lisboa, de João Oliveira, mantém a objectividade do jornalismo e o nível de confiança do leitor, contextualiza notícias e divulga documentos na íntegra, numa tentativa de ser um factor de participação cívica regional. Rogério Santos criou o Teorias de Comunicação para estabelecer empatia com a sua turma de universitários, uma Escola de Montalegre fez o Gente Jovem para familiarizar os alunos com as novas tecnologias e Fernando Zamith recorre ao blog JornalismoPortoNet no ensino do jornalismo online.


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domingo, setembro 21, 2003
 
Fonte: O Primeiro de Janeiro, 18 de Setembro de 2003

Universidade do Minho debate o novo fenómeno
Weblogs podem alargar lusofonia

O investigador universitário espanhol José Luós Oriluela disse ontem, em Braga, que Portugal deve aproveitar as sinergias linguísticas que resultam do espaço lusófono, em especial do Brasil, para criar uma comunidade forte de utilizadores de «weblogs».


Segundo o investigador, só "no Brasil há 300 mil criadores de «blogs», sinergia a aproveitar para a criação de uma comunidade de língua portuguesa".



Um «weblog» é uma página na Internet que se cria em cinco minutos e que é tão fácil de trabalhar como uma folha branca A4. É a nova moda do universo cibernético com quase três mil adesões em Portugal, entre as quais figuras como o eurodeputado Pacheco Pereira.



Na Universidade do Minho, onde ontem iniciou o primeiro encontro nacional sobre «Weblogs», José Luós Oriluela defendeu que a expansão do fenómeno no País deve passar pela criação de directórios actualizados, o estabelecimento de um sistema de «ranking», e pela escrita de «blogs» em português e inglês


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Fonte: Correio do Minho, 18 de Setembro de 2003

Cibernautas do Minho comunicam sem barreiras

Têm os nomes mais curiosos e caracterizam-se pela liberdade de expressão e pela interactividade. Os blogs, páginas pessoais na Internet, suscitam o interesse de muitos alunos e professores da Universidade do Minho. A instituição acolhe, hoje e amanhã, o primeiro encontro nacional e um dos primeiros a nível europeu. sobre esta nova forma de comunicação.
José Paulo Silva

Crime na sociedade columbófila”, “Jack’s Blog”, “Xposure Fotocafé”, “Morte aos Feios”, “Anda ma Cassar”, “Sociedade de Vénus e Apolo”. “Real News”, “Ananke”, “Netnotícias”, “Devaneios de um embrião”, “Insólito”, “Blog de Publicidade”, “E Tudo era Possível”, “Janela Amarela”... A diversidade das designações das quase três dezenas de blogs criados na região minhota dá a ideia do quão eclético é o conteúdo destas páginas pessoais que têm surgido em grande número na Internet.
Este fenómeno de comunicação, que é analisado hoje e amanhã, na Universidade do Minho, no primeiro encontro nacional sobre Weblogs, tem uma expressão significativa na região, fruto, precisamente, do interesse manifestado por alunos e professores universitários, muitos deles ligados à área da Comunicação Social.
Elisabete Barbosa, ex-aluna daquela licenciatura, criou, em Março de 2002, o “Jornalismo Digital”, porventura o primeiro blog minhoto.
A antiga jornalista, um dos membros da organização do 1º Encontro Nacional sobre Weblogs, tomou contacto com a comunidade blog no âmbito de uma investigação de mestrado sobre as mudanças que a Internet provocou na actividade jornalística.
Quando se encontrava à procura de informação sobre os atentados a 11 de Setembro de 2001, Elisabete Barbosa entra no blog “Cris Dias”, criado por um ope- rador informático radicado na altura nos Estados Unidos da América.
Após conhecer o blog “Ponto Media”, de António Granado, um dos mais antigos em Portugal, a aluna da Universidade do Minho decide ela própria criar o “Jornalismo Digital”, como proposta de trabalho final de um seminário do mestrado sobre Ciências da Comunicaçao - especialização em informação e jornalismo.
Os colegas de mestrado de Elisabete Barbosa começaram a enviar informação para aquela página electrónica, tendo, pouco tempo depois, decidido criar novo blog, com o apoio do professor Manuel Pinto, ou -tro dos entusiastas do Encontro que reúne bloggers nacionais e estrangeiros, hoje e amanhã, em Braga. “Jornalismo e comunicação” é o nome do novo blog. A partir de então, outras páginas do género surgem no ciberespaço académico, com conteúdos mais diversificados.

devaneios na net
“Devaneios de um embrião”, criado por Ana Machado, trata, por exemplo, de publicidade. “Ananke” é um blogue literário lançado por Hugo Real. “Sociedade de Vénus e Apolo”,versa sobre o erotismo e “a liberdade erótica nas suas diferentes encarnações : física, estética e filosófica”.
A comunidade blogger minhota conta também com “Xsopure Fotocafé”, um blog de fotografias de Pedro Guimarães e “Morte aos Feios”, um “blog sobre a vontade do poder”.
Há quem escreva de um tudo um pouco neste tipo de diários na Internet. É o caso de Hugo Gama, autor de “Insólito”, blog sobre “A Universidade, casa... a televisão, computador...O livro, jornal”.
“Gente Jovem” foi criado com objectivos pedagógicos por professores e alunos do terceiro ciclo de uma escola do concelho de Montalegre.
Luís Sousa e Filipe Brito oferecem à comunidade da Internet o blog “Intervenções Sonoras”, onde apresentam novidades musicais: novos CD, concertos e outras informações de interesse.
Vasco Eiriz concebeu o blog “Empreender”, onde apresenta ideias e recursos sobre gestão, estratégia e marketing.
Elisabete Barbosa entende que o sucesso deste novo modelo de comunicação tem sobretudo a ver com a facilidade com que se cria um blog.
Para fazer um blog basta encontrar um dos “sites” com software para a construção de diários virtuais e hospedagem gratuita .
O mais popular é o “Blogger”, um site norte-americano recentemente comprado pelo Google.
Através do sistema “Blogger” tem-se acesso a vários formatos pré-definidos destes diários electrónicos.
Outra das vantagens da blogsfera é a “interactividade”, já que muitos dos blogs permitem aos visitantes a apresentação de comentários.
A autora de “Jornalismo Digital” e “Blog Clipping” confessa que, “no início, era muito viciada, ia mais do que uma vez por dia ler os comentários” e conhecia praticamente todos os blogs portugueses
Agora, confessa-nos Eli- sabete Barbosa, é praticamente impossível consultar com regularidade os cerca de mil blogs que se mantêm mais ou menos activos em Portugal.

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Fonte: Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2003

Pouco interesse comercial pelos blogs
Os blogs nasceram com o espírito de um diário, produzido na intimidade, embora divulgado à escala planetária. Sem intenções comerciais, portanto. Todavia, os mais atentos logo encontraram ali uma oportunidade de negócio, nomeadamente ao nível do marketing.
Manuel Pinto, docente de Comunicação Social da Universidade do Minho, nota que "já há blogs criados para o lançamento de produtos, ou seja: determinada empresa lança um produto para o mercado e cria, em paralelo, um blog dedicado a esse produto, em que faz a compilação de notícias publicadas sobre o produto, acolhe as reacções dos consumidores e novas ideias, na lógica estrita de um diário". O caso da boneca mais famosa do Mundo, a Barbie, é paradigmático a este respeito, existindo centenas de blogs criados em tornodo brinquedo. Mas não só – o maior motor de pesquisa do Mundo, o Google, adquiriu em Fevereiro a Blogspot, maior alocador de blogs, à Pyra Labs, por rentabilizar, do ponto de vista qualitativo, a pesquisa na Internet. Há, além disso, alguns blogs mais popular
es que já alojam publicidade. Luís Novais, da Vector 21, no entanto, apenas vislumbra interesse empresarial "na construção de blogs nas grandes empresas, para suscitar o debate interno e para os gestores possam ter a noção da massa crítica que estão a gerir. apenas ao nível das intranets, e nada mais. O resto será sempre residual", disse.

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Fonte: Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2003
Blogomania nacional
Elmano Madail

A explosão dos diários digitais portugueses conheceu um crescimento exponencial nos meses de Verão, constituindo verdadeira blogosfera lusitana desde que o universo da política aderiu à ferramenta Futuro passa pela depuração de conteúdos e pela nova geração de "moblo gs", permitindo a devassa da vida alheia através de telemóvel com fotografia



Ofenómeno instalou-se devagar, cresceu exponencialmente (ver caixa) e atingiu proporções desmesuradas. Desde que nasceu o primeiro weblog nos Estados Unidos da América – construído por Tim-Bernes Lee em 1992, seguido pelo "What's New" da Netscape, em linha de 1993 a 1996 –, contaminou todo o ciberespaço. Portugal incluído (ver caixa). E que nos reserva o futuro? Manuel Pinto, docente da Universidade do Minho (UM), Braga, onde decorrerá, hoje e amanhã, o primeiro encontro de weblogs em Portugal, julga que "assistiremos a um grande enriquecimento gráfico dos blogs, e com conteúdos mais direccionados. Enquanto fenómeno tenderá a diminuir, mas a facilidade de acesso e de publicação estão para durar, e a prova é que a AOL, que tem milhões de assinantes nos EUA, acaba de criar, a título experimental, uma ferramenta de blog". Para António Granado, também docente universitário, e que abordará a questão pelas 18 horas de hoje na UM, a resposta está nos "moblogs". "São blogs feitos a partir de telemóveis com câmara fotográfica incorporada. Surgirão moblogs de viagens, mas também de figuras públicas em situações embaraçosas. A devassa da intimidade irá explodir", diz. Com efeitos mais poderosos do que o blog nacional mais popular do momento, dedicado à denúncia de presumíveis factos relacionados com o caso da Casa Pia, o Muito Mentiroso (http://muitomentiroso.blogspot.com).
Para lá das dúvidas éticas suscitadas pela utilização de cariz delator sob anonimato dos blogs, popularidade tamanha daquela ferramenta informática suscitou visões inflamadas naqueles que vêem nos blogs o útero que acolhe o embrião de uma nova comunidade, construída pela e na partilha de conhecimentos, a "blogosfera". São os arautos do novo Enciclopedismo que recuperam o mitema da Torre de Babel. Versão "high-tech".
"Os blogs são o fenómeno mais importante que ocorreu na Internet desde há 10 anos. Em 1993, houve a revolução dos browsers, permitindo a navegação. Dez anos depois, é a revolução dos blogs, cuja força provém de constituirem uma grande conversação global, gerando uma comunidade pelo intercâmbio de conhecimentos, produzido pelos post, comentários e réplicas – a 'blogosfera'. Como consequência, os blogs são potentíssima ferramenta para criação de comunidades espirituais baseadas no conhecimento partilhado", sublinha José Luís Orihuela, professor na Universidade de Navarra, Espanha, que também intervirá hoje na UM. E chama a atenção para o facto da depuração de conteúdos de qualidade ser promovida pela própria blogosfera: "Os blog são auto-referenciais, citam-se amiúde,
depurando o seu universo de banalidades. É um espaço semântico por excelência".
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Lusa: 16 de Setembro de 2003

Internet: Weblogs - Moda das páginas pessoais é tema de encontro nacional


Lisboa, 16 Set (Lusa) - Uma página na Internet que se cria em cinco minutos
e tão fácil de trabalhar como uma folha branca A4 é a vantagem dos Weblogs,
a nova moda do universo cibernético com quase 2.000 adesões em Portugal.

Idênticos a uma página da Internet mas muito mais fáceis de usar, mesmo para
quem nada perceba de novas tecnologias ou de programação, os Weblogs tiveram
recentemente um grande desenvolvimento nacional, depois de figuras
conhecidas, como o eurodeputado Pacheco Pereira, terem criado páginas
pessoais.

Na Universidade do Minho, quinta e sexta-feira, realiza-se o primeiro
encontro nacional sobre Weblogs, no qual se vai analisar o fenómeno, quer a
nível nacional quer internacional, além de perspectivar o futuro da nova
moda.

No mundo existem milhões de páginas assim, onde cada um põe desde os seus
diários mais íntimos a críticas políticas, fotografias, textos literários,
poesias ou puras mentiras, o que se quiser.

Para se ter um "cantinho" no mundo da Internet bastam cinco minutos,
inventar um nome (login) e uma senha (password) e fica-se instantaneamente
com uma página para dar largas a ... qualquer coisa.

Especialistas nestes novos tipos de linguagem admitem que ela pode ter um
lado perverso, porque o criador de um Weblog, a coberto do total anonimato,
pode lançar calúnias, dizer mentiras ou denegrir a imagem de outras pessoas,
sempre de forma impune.

"Antigamente havia os panfletos anónimos, isto insere-se nos mesmos
registos. São os riscos que corremos ao assumir uma nova forma de
comunicação, mas serão os próprios utilizadores que vão fazer o necessário
trabalho de depuração", disse à Agência Lusa Manuel Pinto, professor de
jornalismo da Universidade do Minho e um dos organizadores do encontro.

Manuel Pinto, também ele um Blogger (responsável por um Weblog, ou Blog),
admite que em Portugal existam já perto de 2.000 páginas deste género, que
têm uma componente individual ou de grupo forte, visto que, por enquanto,
não há Weblogs institucionais.

"Alguns disputam o espaço dos media, e até há quem diga que são alternativa
aos media, embora pense que eles funcionam mais como complemento", afirmou o
responsável.

Mas além desta vocação (imprensa), a variedade de Weblogs é imensa, como
reconhece Manuel Pinto: "As temáticas são impressionantes, há de tudo, desde
sexo a arte, há os de puro exibicionismo, há outros criados para uma causa,
outros que querem prestar um serviço. Hoje estão mais na moda os blogs
generalistas mas houve uma fase que os políticos estiveram na berra".

Manuel Pinto frisa que há "um fenómeno de moda evidente", mas considera-o
"um fenómeno muito consistente" e não se admira que no futuro possam haver
Weblogs de acesso pago, como agora há páginas da Internet pagas.

Para já, os Weblogs são páginas de Internet pessoais mas que o mundo inteiro
pode ver, com uma funcionalidade acrescida na maior parte dos casos, o
"mundo" pode responder ou comentar as iniciativas do autor.

Em Portugal, o Weblog com mais sucesso, "um crescimento astronómico" como
diz Manuel Pinto, é uma página com uma visão muito própria do caso de
pedofilia envolvendo a Casa Pia.

O autor assume-se como mentiroso. Mas diz a sabedoria popular que uma
mentira muitas vezes repetida (lida, neste caso) se torna verdade.

FP.

Lusa/Fim
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